História da Corporação
A implantação da República havia ocorrido poucos meses antes.
Vivia-se uma época e o fervilhar de vontades e entusiasmos até então adormecidos surgia por todos os lados. Era uma página que se virava da nossa História de séculos e isto também teria que ocorrer nos Carvalhos. Já então, a povoação dos Carvalhos atravessava um surro de desenvolvimento social, económico e cultural que a tornavam como uma das mais importantes do Concelho de Vila Nova de Gaia.
De entre as várias Instituições e Colectividades existentes, faltava uma que pudesse completar, na prática, o fruto dessas vontades, fundamentalmente viradas para um melhor benefício das populações.
É assim que em 17 de Abril de 1911, é fundada uma Corporação de Bombeiros Voluntários, a que se dá o nome de…
BOMBEIROS VOLUNTÁRIOS CARVALHENSES
Talvez o nome seja para muitos uma autêntica novidade, mas o documento Cartão de Identidade de Bombeiro e o que na Monografia de Pedroso, obra ainda em manuscrito e da autoria desse insigne cidadão que foi José Domingues da Rocha Beleza se conta e citamos: “… No lugar dos Carvalhos, há uma Corporação de Bombeiros Voluntários, sob a designação de…
BOMBEIROS VOLUNTÁRIOS DOS CARVALHOS”
O material foi cedido pela Câmara Municipal, por intermédio do Sr. Carneiro Aranha, membro da Comissão Administrativa de Gaia. É seu Comandante o cidadão Alberto de Oliveira Ramalho e consta de 11 bombeiros, cujos nomes são:
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Dado que se ignora a data precisa em que esta Manografia foi escrita, mas lembrando que José Domingues da Rocha Beleza faleceu em 1926, cremos que alguns dos nomes referidos não eram os fundadores, pois, dos documentos reputados de fidedignos, os membros fundadores foram:
Comissão Directiva
- Domingues Gonçalves de Castro
- João da Costa Couto
- Manuel Rodrigues dos Santos Costa
- Fernando Francisco Pereira
- Alberto Oliveira da Costa.
- Bernardo Pinto
- Turíbio Luís de Almeida
- António Pereira da Silva
- António Coelho de Oliveira
- Francisco Rodrigues Fisteus
- Ibraim Torres
- Cândido da Mota Pinto
- Florido Pereira dos Santos
- Nicolau Luís de Almeida
- Guilherme de Oliveira Aguiar
- José Pereira Paulas
- Ibraim Domingues Pinto
A Primeira Sede (Quartel)
O primeiro passo fora dado e agora importava passar à prática, isto é, arranjar-se localização do primeiro quartel-sede, mas a que salvo melhor opinião tem sido mais citada, a seguinte:
A primeira sede dos Bombeiros foi uma casa da Rua do Padrão, pertença do Sr. Maneca Juca Beleza, que na ombreira de um portal tinha uma sineta fixada, e que, sempre que havia fogo, como se dizia naquele tempo, era tocada. Esta casa ficava da à casa da Sra. Maria Rita, em frente ao prédio do Prof. José Ramos, no local onde hoje está a ainda chamada Casa dos Barros Ferreira.
Nos baixos da referida casa e no seu interior, o material que havia era um carro de mão com altas rodas e em cujo estrado estava um outro com umas das bombas de pressão fixas, uma escada de ganchos e um tanque de lona que levava aproximadamente meia pipa de água.
Tudo isto era transportado à mão. Na frente do eixo iam duas pessoas a puxar, ajudadas pelo rapazio que agarrados a uma corda com muitos paus atravessados, lá conseguiam levar o carro até ao local do fogo.
Passados instantes, toda a gente da povoação sabia onde tinha sido o fogo, e, se perto, eram mais uns voluntários que surgiam.
O Primeiro Incêndio
Um dos primeiros incêndios, se não mesmo o primeiro foi na Voltinha, em edifício onde depois se instalou o quartel da GNR, e que segundo a versão da época, foi fogo posto.
Recorde-se um outro fogo no lugar do Curro, numa casa térrea. Os bombeiros chegaram e aí se preparou o ataque ao mesmo. Montava-se o estrado onde se tinha a bomba de pressão e ao lado o tanque de lona que as pessoas da localidade iam enchendo, a bomba absorvia a através da mangueira se atacava o fogo. Os processo eram tão rudimentares, que neste fogo, alguns rapazolas do lugar começaram a gozar com o espectáculo. Então um dos bombeiros, virou-lhes a mangueira e foi remédio santo. Nesse mesmo fogo e já no rescaldo o Júlio Cortador que também era bombeiro, viu uma perna queimada e disse-me:
-Ó Mário, olha um presunto! … e puxando da dita perna, era um cão queimado.
A Segunda Sede (Quartel)
Da casa do Sr. Manuel Juca Beleza passam os Bombeiros para os baixos da do Sr. Dr. Gil Ramos, mas o carro e a bomba ficaram na do Sr. Casimiro Duarte, onde hoje está instalada a ourivesaria do Ricardo.
A Terceira Sede (Quartel)
Daí foi a passagem para a Alquilharia do Sr. Manuel Rodrigues Fisteus, O Espanhol e onde se instalou o 1º pronto-socorro que foi inaugurado em 1931, com festa rija, a que se pôs o nome de Triunfante e de quem foram padrinhos Manuel Francisco Vieira de Andrade e Esposa.
Era da marca REO, de pneus maciços e a primeira prestação foi de 11.930$00.
Abrilhantou esta festa a Tuna de Perosinho e foram figuras de relevo para a concretização deste sonho, Manuel Rodrigues dos Santos Costa, Dr. Manuel de Oliveira Campos e Ibraim Pinto.
Para que o pronto-socorro pudesse entrar no seu novo quartel foi necessário cortar-se uma escada.
E foi aqui, no quartel, antiga alquilharia que os Bombeiros instalaram o seu também primeiro buffet, lado a lado com o pronto-socorro, buffet este explorado na altura pelo Zeca Paulas.
As Comunicações
O primeiro telefone é instalado no quartel da antiga alquilharia e recebeu, naturalmente o nº 1. Para a sua instalação de novo estiveram Santos Costa e Ibraim Pinto.
Mas já aqui, se instalara uma pequena camarata onde podiam dormir uma meia dúzia de bombeiros. O encarregado que zelava pelo material dos bombeiros era um sapateiro mudo, ou melhor que se faz passar durante muito tempo por mudo e só mais tarde, em Braga, sua terra natal, um habitante dos Carvalhos reconhecendo-o, pôde descobrir que falava e bem.
Na festa de inauguração do primeiro pronto-socorro, cuja sessão solene se realizou no Salão Nobre da Associação de Socorros Mútuos de Pedroso, lindamente engalanado e de cujas escadas algumas meninas da época, como Maria Pimentel Leite, Ilidia Fernandes Moutinho, Alzira Pereira da Silva, Ema Estefânia Pimentel Leite, Florbela Pereira da Silva Ana de Oliveira e outras, lançavam pétalas de flores aos convidados. Foram atribuídas medalhas (embora não entregues por não estarem prontas) aos seguintes bombeiros: José Pereira Paulas, 10 anos de serviço e Joaquim da Cruz Lima, Alberto da Silva Moutinho, João de Almeida e Américo Pereira da Silva, 5 anos de serviço.
Cita-se que a experiência com o REO foi algo de sonante, pois o carro entre o percurso dos Carvalhos à Feiteira atingiu a bonita velocidade de 125 quilómetros hora!
Estavam passados vinte anos desde a data da fundação e neste tempo, de entre outras, algumas figuras atingiram particularmente destaque: Manuel Rodrigues dos Santos Costa, Ibraim Domingues Pinto, Domingues Gonçalves de Castro, Dr. Mannuel de Oliveira Campos e Santos Filho.
Esta época de certo progresso duraria poucos anos. Surgiam as politiquices, o derrotismo e a má língua.
Da parte documental em arquivo apenas há actas quer da Direcção, quer da Assembleia Geral a partir do ano de 1935, pois toda a história anterior se perdeu, salvando-se um ou outro documento isolado.
Sucedendo ao Prof. José da Costa Moreira Melo, é eleito Presidente da Direcção em 16 de Março de 1935, António Correia da Silva já nessa altura, um dos maiores beneméritos da Corporação. Esta Direcção, por ser a primeira constante em Livro de Actas, aqui fica:
Presidente da Assembleia Geral
Presidente do Conselho Fiscal
Presidente da Direcção
Directores
Joaquim Duarte de Oliveira
António de Oliveira e Sousa
Manuel Guedes dos Santos Costa
Francisco da Cunha e Sousa
Augusto Soares da Silva Joaquim Gonçalves
Neste mesmo ano era Comandante o Dr. Manuel de Oliveira Campos. e o 2º Comandante Joaquim da Cruz Lima.
Tinha a Corporação no final deste ano de 1935, 135 associados.
Quadro de Comandantes da Corporação:
Da recolha possível, no que se refere aos Comandantes e por ordem que julgamos cronológica desde a data da fundação, aqui se citam os seus nomes:
- Alberto de Oliveira Ramalho
- José Domingues da Rocha Beleza
- Flórido Pereira dos Santos
- António Coelho de Oliveira
- Ibraim Domingues Pinto
- Dr. Manuel de Oliveira Campos (1938 e 1939)
- Alberto da Silva Moutinho (1940)
- Dr. Américo Volta da Silva e Sousa (1941 a 1945)
- Dr. Joaquim de Oliveira Lopes (1946 a 1950)
- Dr. Américo Volta da Silva e Sousa (1951 a 1971)
- Joaquim Moreira Pedrosa (1972)
- Manuel da Silva Lopes (1973 a 1979)
- Dr. Joaquim Mano Póvoas (1980 a 1991)
- Sérgio Manuel Filhote Marques de Queirós (Cmdt Interino 1991 a
1992) - Sérgio Manuel Filhote Marques de Queirós (1993 a 2005)
- Ricardo Jorge Fernandes e Magalhães (2005-2013)
- Ten. Ricardo Daniel Sousa Santos (2013- ….)
Ano de 1980
Se, na longa história dos Bombeiros, se referem, com inteira justiça, várias figuras de Comandantes e que tem vindo em sucessivas gerações a merecer o público testemunho de gratidão de todos os amigos da corporação, há quem nestes tempos mais recentes, deve, pelo mesmo imperativo de justíça figurar lado a lado, com esses inesquecíveis “notáveis”.
Referimo-nos, obviamente, ao Dr. Joaquim Mano Póvoas e mais do que as nossas palavras, a obra por si iniciada, após a última e grave crise da corporação. Não olhando a quaisquer tipos de sacrificios, pôs toda a sua capacidade e generosidade ao serviço dos
Bombeiros.
Sempre em estreita e leal colaboração com as Direcções, reorganizou e dignificou os quadros da corporação, implementando medidas de rigor e de disciplina, assumindo, quando tal se impunha, a primeira linha de “batalha”, felizmente ganha, que o tornaram, como um dos gloriosos comandantes do passado, um dos “primus inter pares”.
Estavamos no ano de 1980 e com a passagem à inactividade do Comandante Manuel Lopes, era necessário nomear outro Comandante e essa tarefa coube à Direcção Presidida pelo saudoso Augusto Soares da Silva. Foi contactado pela Direcção da Associação e simultâniamente pelo Senhor Coronel Barbosa da Silva que interinamente exercia as funções de Inspector Regional de Bombeiros do Norte. A corporação não podia continuar a viver na situação de indefinição.
Depois de efectuar uma análise pormenorizada do estado em que se encontrava a Associação e o seu Corpo operacional, decidiu aceitar o cargo de Comandante mediante um plano para a sua reestruturação e desenvolvimento. Não foi fácil.
Nessa época, os problemas eram muitos e toda a gente dentro e fora desta casa, estava ansiosa por soluções rápidas e sobretudo eficientes.
Como nunca tinha sido bombeiro, não conhecia as técnicas utilizadas pelos bombeiros nas suas actividades. Possuía, no entanto, uma experiência militar que lhe dava o privilégio de saber como lidar com homens nas situações mais diversas. Por outro lado, a sua formação académica e profissional foi, também, importante para ajudar a gerir esta instituição.
Embora a Corporação estivesse bastante reduzida nos seus quadros de pessoal, ainda possuía alguns homens que resistindo a todos os sobressaltos vividos, continuavam a gostar de ser bombeiros e, por isso, havia apenas que os orientar e dar confiança para o seu empenhamento no projecto de estruturação e desenvolvimento traçado.
- Pessoal
- Material
- Instalações
Pessoal
A formação de bombeiros e a criação de condições para a sua permanência ao serviço da Corporação tinha de ser permanente e interminável. Assim, os elementos que aqui descrevemos, com a ajuda de bombeiros do corpo activo, onde destacamos; 2º CMDT António Domingos Braga; Chefe Mário Braga e Sub-chefe Alberto Pedrosa Vidal , vieram dar vida nova, a uma casa carente, formando a primeira Escola de Aspirantes do ano de 1980:
- Alcino Ribeiro dos Santos
- Alexandre Alberto Moutinho Dias
- António Júlio Pedrosa Vidal
- António Luís Moreira de Sousa Pinto
- Fernando dos Santos Gonçalves
- Joaquim Pedrosa Vidal
- Jorge Fernandes Macedo Amaral
- Jorge Manuel Marques Coelho
- José António Valente Couto
- José Manuel Moreira de Sousa Pinto
- Manuel Luís da Costa Oliveira
- Sérgio Manuel Filhote Marques Queirós
Material
Quanto à vertente material, houve que fazer um grande esforço financeiro para dotar o parque de viaturas em número e qualidade, o mínimo necessário para dar resposta à região em que estamos inseridos.
A Corporação dispunha de 3 ambulâncias operacionais e 2 carros de incêndio já bastante antigos. Desses carros de incêndio, o único que tinha capacidade, e que aqui apresentamos em foto, para armazenar água estava equipado com um tanque com capacidade de cerca de 400 litros.
Em 1981 foi adquirida uma ambulância nova e transformada outra. Em 1982 foi adquirida uma outra ambulância e um carro de incêndio todo-terreno com condições de ataque a fogo e transporte de 5.000 litros de água. Para se ter uma ideia do valor investido, a corporação despendeu cerca de 7.000 contos.
A partir de 1983, foi adoptado um programa de aquisição de uma ambulância por ano, a fim de melhorar a quantidade e idade média da frota.
Instalações
Quanto à vertente Instalações, demos um salto qualitativo e quantitativo.
Ampliamos o nosso quartel e melhoramos o as partes existentes, dando prioridade à área destinada à recolha de viaturas e material e às áreas de trabalho de pessoal.
Hoje, podemos dizer que os Bombeiros dos Carvalhos têm um quartel. Não é um quartel fechado à população, mas é um quartel com vida própria sem interferências directas da população.
Falando das vertentes do projecto, não poderemos deixar de falar no elemento essencial que lhe dá corpo. Trata-se do relacionamento e colaboração que é necessário manter e desenvolver entre duas entidades mais responsáveis desta casa. Direcção e Comando.
Como no passado, no presente e no futuro, os dirigentes desta Instituição têm de estar sempre atentos aos princípios da sua colaboração, pois é nela que todas as acções levadas a cabo se devem cimentar. Penso que o nosso modesto êxito foi assim conseguido.
Momento histórico
No Hotel Infante Sagres o senhor Presidente da República das mãos de Manuel de Oliveira Couto, presidente da direcção dos Bombeiros recebe o emblema em ouro, e o diploma de Sócio Honorário. Assistem os senhores: Dr. Ramiro Marques de Queirós, vereador da Câmara de Gaia; Coronel Alexandre de Magalhães, inspector de incêndios da zona Norte; Dr. Carlos Ramos Pereira, presidente da U. Nacional Concelhia e Coronel Joaquim Alves da Silva, presidente do Município de Gaia. Presente ainda, que a imagem não focou, Melo Alvim Tesoureiro da Corporação.